Hoje falo de memórias, de sabores que já não seriam os meus, mas que na cozinha da avó Ricardina se esticaram até à minha infância. Eram tempos de arroz branco, de arroz cremoso e amanteigado. De um arroz que se deixou perder nos anos…
Recordo o caminho assim. Um domingo de manhã clara, sol aberto e céu azul.
O carro a serpentear pela Serra de Sintra afora e a minha atenção disputada pelo mar picado do Guincho de um lado ou pela vegetação então bem mais verde do que agora. De curva e contracurva se faz ainda hoje o caminho que acaba ali mesmo, na Azóia. Ali onde a Natureza deu mais uns passos para logo à frente marcar encontro entre o mar e a terra, ali onde se insinua majestosamente o ponto mais Ocidental da Europa. A estrada segue com fim certo, acaba no Cabo da Roca.
Quando abríamos o portão de ferro, sempre perro, este parecia ladrar junto com os cães. Transpô-lo anunciava o que aí vinha: o avô sentado ao sol, a horta e os canaviais, a casota dos cães, o barracão escuro das batatas.
E anunciava a porta aberta, onde a cozinha nos recebia com o cheiro a almoço pronto.
Contar a história deste arroz é voltar atrás… É voltar aos almoços de fim-de-semana em casa dos avós, à cozinha de banco corrido, fogão alto e relógio de cuco a tocar na sala ao lado.
Tão simples. É apenas um arroz. Um arroz que me senta de novo àquela mesa, posta com pratos de louça desencontrada, que acompanha o coelho com molho escuro, que me reaviva as poucas memórias com paladar que ainda consigo guardar desses tempos.
Por ser a neta mais nova, já da fornada de 80, e porque a vida impõe a sua vontade sem pedir licença, não cheguei a cozinhar para a minha avó… Gostava de ainda hoje poder comer este arroz com ela, feito por ela, feito para ela.
De mim para ela.
1 chávena de arroz carolino
3 chávenas de água
Sal
1 colher sopa de manteiga
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thermomix_bimby
Coloque a água e o arroz no copo, tempere com sal e marque 17 min, temp 100º, vel colher inversa.
Quando faltarem 30 seg para acabar o tempo, junte a manteiga.
tradicional
Coloque a água e o arroz num tacho, tempere com sal e cozinhe tapado em lume brando até que o arroz absorva a água, sem secar.
Junte a manteiga e envolva.
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Nota:
- Com este post contribuo para o desafio lançado pela Laranjinha, “Conte-me a Sua Receita”, no blogue Cinco Quartos de Laranja.
Feito pela avó esse arroz ainda tinha um sabor mais especial.
ResponderEliminarBjs
Querida Gasparzinha,
ResponderEliminarao ler o teu post imaginei-me sentada ao teu lado, a olhar o mar picado do Guincho,a emoção de chegar a casa dos avós, sentir o cheiro do almoço pronto ... a comida dos afectos é tão boa. Ao tempo que não como um arroz de manteiga!
Tenho a certeza de que a tua avó se iria orgulhar muito, muito dos teus cozinhados.
Um beijinho.
As receitas com história são as melhores :) é como se tivessem um condimento especial que a cada garfada faz recordar um momento.
ResponderEliminarbeijinhos
Viajei na sua historinha, porque não conheço este local narrado, mas imaginei como era lindo.
ResponderEliminarAdorei a dica da colher de manteiga no arroz, vou fazer e depois te conto.
Bjs, bom sábado.
Perfecto. Adoro los sabores limpios y puros, como este precursor del risotto. Lo más sencillo es sin duda lo mejor. Gracias por compartirlo.
ResponderEliminarBesos,
Nikk
Querida, viajei em sonhos e em memórias gustativas na sua história!
ResponderEliminarTambém quero provar este arroz!
Beijos no coração!
Sabes, este é de longe o meu arroz favorito... nem risotos, nem arrozes de outra forma... é mesmo o de manteiga simples e cremoso.
ResponderEliminarLindo texto! Parabéns! Ilídia
ResponderEliminartb com o relato da tua história senti-me ao teu lado nesse dia, nesse almoço, e tb senti saudades da única avó que conheci e que vivia na casa ao lado da nossa, tb uma avó bem velhinha a única que me chamava "isabelinha".
ResponderEliminararroz de manteiga recorda-me sempre que estava doente, era obrigatório com bife de perú :O, mas este feito pela minha mãe, no entanto hoje peço-lhe para fazer, para matar saudades da comida dela, comida que por mais dicas que me dê não fica com o sabor de mãe, sorte as minhas filhas sentirem isso pela minha comida e dizem " és a melhor cozinheira do mundo" :D
Feito pela avó teria concerteza um sabor especial,....
ResponderEliminarObrigada pela partilha!
Beijinhos
Ai estas avós... ao "ouvir-te" falar assim recordo também os tempos auréos em que, ao chegar a casa, a minha avó tinha pronto para me receber o maravilhoso arroz de manteiga :) Belas recordações. Gostei muito!
ResponderEliminarBeijinhos
Gasparzinha,
ResponderEliminarque post tão lindo, uma recordação e uma receitinha hoje feita pela neta.
Gostei muito da ideia desta receita para o concurso da Laranjinha.
Pi
Fernanda
Não é o meu arroz, mas é sem dúvida o arroz da minha avó e ainda hoje o preferido do meu pai.
ResponderEliminarAdorei a fotografia com aspecto rectro :)
Beijocas
Tem um aspecto super cremoso, no fundo é quase um risoto à moda antiga ;) Adorei o portão perro que parecia ladrar junto com os cães. É poesia ;)
ResponderEliminarEsse é também o arroz das minhas memórias de infância e o que primeiro aprendi a fazer. Cremoso e com aquele gostinho a manteiga sabe tão bem...
ResponderEliminarbeijocas grandes amiga
Este arroz faz parte das minhas memórias de infância, acho que de todos nós, e a história muito bonita.
ResponderEliminarUm beijinho
Amiga este arroz também me leva a viajar ao passado... mas o meu levava uma cebola descascada e semi cortada aos quartos.
ResponderEliminarAdorei viajar contigo até ao mar =)
Beijinhos e tive muita pena de não te ver hoje =(
A minha avó, sobre quem escrevi no meu post para este desafio, tb fazia uma arroz de manteiga maravilhoso, num tachinho velho de aluminio. Ainda hoje é um dos meus pratos favoritos, só um pratinho de arroz de manteiga, pode haver algo mais confortante?
ResponderEliminarTambém adoro!!!!! Obrigado pela receita e pela memória :)
ResponderEliminarAqui está o arroz da avó, acompanhado por memórias tão bonitas dos almoços ao domingo.
ResponderEliminarVou confessar uma coisa, ainda hoje de vez em quando faço este arroz de manteiga.
Bjs
sendoi feito por essas maos tai sabias sabem mil vezes melhor
ResponderEliminarbeijinhos
Que lindo post. Estou sinceramente comovida. Também tenho saudades de certos sabores da minha infância e do que eles representavam. Tenho pena de não poder cozinhar também para quem tantas delícias me preparou...
ResponderEliminarParabéns pelo blog maravilhoso.
Adorei a história. Viajei contigo até casa da avó Ricardina (até cheguei um bocado combalida por causa das curvas) e regalei-me com o arroz de manteiga!
ResponderEliminarbeijos